
Orientação parental

Você já parou para pensar sobre o papel crucial da orientação parental na jornada de crescimento dos nossos filhos? É um tema muitas vezes negligenciado, mas que está se tornando cada vez mais relevante na prática clínica.
Do ponto de vista neurobiológico, o cérebro está em constante desenvolvimento até os 25 anos de idade, em média. E o que é mais interessante, a última parte a amadurecer é a região frontal, responsável por comportamentos direcionados a metas e autorregulação.
Portanto, por mais que uma crianças ou adolescentes estejam se desenvolvendo bem, ainda não possuem completamente as habilidades necessárias para desempenhar certas tarefas. E não, isso não é uma crítica a você, jovem leitor. Eu também já estive nessa idade e se tivesse acesso a essas informações na época, talvez compreendesse melhor os desafios do meu próprio desenvolvimento.
Por isso, o papel dos pais é essencial, seguindo uma espécie de “lógica” adaptativa, embora não haja um manual de instruções universal. Cada situação é única.
Existem inúmeras facetas e subtemas dentro deste tópico. Aqui, vou me concentrar nos princípios básicos sob a ótica da neurofisiologia e da prática clínica fundamentada em evidências científicas.
Em resumo, os pais não só precisam estar cientes da imaturidade do cérebro jovem, mas também desempenhar um papel crucial no preenchimento dessa lacuna no desenvolvimento. E vou além, afirmo que a orientação parental não é meramente uma orientação, mas sim uma educação psicológica sobre como “jogar o jogo” da parentalidade.
É importante ressaltar que, em caso de dificuldades significativas, estresse intenso ou qualquer impedimento no processo, é fundamental procurar ajuda profissional.
As funções executivas podem ser resumidas em três áreas-chave: memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e controle inibitório. Essas habilidades são essenciais em nossas atividades diárias, como planejar tarefas, manter o foco no trabalho ou estudos e cumprir obrigações antes de desfrutar de momentos de lazer.
Embora nós, adultos, estejamos familiarizados com essas demandas, as crianças e adolescentes muitas vezes enfrentam dificuldades devido à imaturidade cerebral nessa área.
É aqui que entra o conceito de hábitos. Nosso sistema de recompensa aprende com nossas ações. Se não há consequências diretas para a falta de cumprimento de tarefas, é provável que o comportamento persista. Ensinar a importância do esforço antes do lazer ajuda a estabelecer uma rotina saudável.
Garantir que esse processo se repita várias vezes é essencial para que o cérebro internalize a importância da organização e disciplina.
Não é uma jornada fácil, eu sei. Mas é essencial manter o foco nos objetivos: autonomia, aumento da autoeficácia, melhoria da autoestima e preparação para os desafios da vida adulta.
Se você, jovem leitor, está acompanhando, lembre-se da importância desses conceitos. Quanto mais você se envolver nesse processo, maiores serão suas chances de sucesso.
Disfunções executivas (que são absolutamente treináveis e que podem se desenvolver até o último dia de vida) não consistem em um diagnóstico específico, mas sim sobre prejuízos na funcionalidade do indivíduo no dia a dia, no balanceamento entre realizar tarefas cognitivas, como organização, execução, não postergar para posteriormente poder usufruir de momentos de lazer e descanso.
Alguns dos comportamentos que podemos observar em pessoas que estão apresentando déficits em funções executivas são:
- Falta de cumprimento das tarefas de forma recorrente;
- Dificuldade na implementação da rotina;
- Prejuízos no desempenho acadêmico ou social;
- Desregulação do sono;
- Falta de cuidados pessoais.
Em minha prática clínica, incluo a orientação parental como parte integrante do processo terapêutico, trabalhando em conjunto com a terapia da criança ou adolescente. Isso garante uma abordagem mais abrangente e eficaz, promovendo o desenvolvimento saudável das funções executivas e a consolidação de hábitos positivos.
É importante também reconhecer que a parentalidade exige cuidado, disciplina e dedicação, e que os pais nem sempre estão em condições ideais para desempenhar esse papel. Não devemos hesitar em procurar apoio profissional, lembrando que todos nós, pais ou não, podemos passar por momentos de fragilidade e precisar de ajuda.
Vamos juntos nessa jornada de crescimento e aprendizado, tornando a parentalidade uma experiência mais leve e gratificante para todos os envolvidos.
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